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  • Foto do escritorLis Haddad

O conto de ilha bonina e lua fina.

Atualizado: 8 de out. de 2020

No meio do mar vivia Ilha Bonina e o que mais gostava na vida era viajar. Estava sempre a se mover para onde a curiosidade apontava, deixando para trás um rastro de ondas.

Sua melhor amiga era Lua Fina. Inseparáveis, descobriam o mundo juntas. Lá do alto Lua Fina contava tudo que via acima da terra; lá de baixo Ilha Bonina contava tudo que via dentro da água.


Quando chegavam a um novo lugar todos os seres as olhavam admirados. Onde estava o verde de vida daquele pedaço de terra? E que cor era aquela que não sabiam o nome?

A lua, que tudo assistia de cima, corria pelo céu e se aproximava para narrar aos outros os encantos da amiga. Só ela, brilhante que era, conseguia penetrar os segredos de Ilha Bonina.


Todos ouviam fascinados mas não se atreviam a chegar muito perto. Afinal de contas quem confiaria naquele sorriso no céu que tudo via mas nada tocava?

Nessas horas Lua Fina se aborrecia e esbravejava: – Vocês não sabem o que estão perdendo!

E assim seguiam juntas desvendando novos destinos.


Numa noite a amiga do céu disse a amiga de terra e água: – Por aqui sou visitada por estrelas, planetas e asteróides que trazem histórias e notícias de todos os lados e para quem conto as nossas aventuras. Nunca vi ninguém te visitar, Ilha Bonina. Logo você, com seus pés de pitanga, acerola, mexerica e primavera...


Foi então que Ilha Bonina pôs-se a contar: – Uma vez convidei o Vento a entrar. Ele feliz da vida passeou pelos meus campos, montanhas, vales e cavernas. Era tão gostosa a sensação da brisa correndo em mim que logo me pus também a mover e dançar sobre os mares. Foi então, já cansado de tanto soprar, que o Vento quis se despedir. Quando viu que estávamos muito, muito longe de onde havíamos nos encontrado, me disse furioso: – como pôde me trazer para tão longe sem me perguntar se eu gostaria de vir? Enfurecido começou a girar, correr, girar, correr, girar, correr… Arrancou todas as minhas flores e todas as frutas de minhas árvores. Foi-se embora o Vento, bravo, bravo e eu fiquei, triste, triste.


A Lua vendo o lamento da amiga, começou a lembrar das viagens que fizeram juntas e a imaginar suas próximas aventuras, e aos pouquinhos as duas se iluminaram novamente.

Primeiro veio um sorriso que logo virou risada e numa cambalhota se transformou em gargalhada. Lua Fina cresceu até virar Lua Bola.


Riam tanto, tanto que de longe um barqueiro pode ver através da luz da Lua toda formosura de Ilha Bonina. Viu suas flores e seus detalhes e sem pensar duas vezes partiu em sua direção.


Ilha Bonina e – agora – Lua Bola, já leves de tanto gargalhar, caíram num sono tranquilo e silenciaram. E foi nessa horinha de descanso que o barqueiro aportou na praia de Ilha Bonina. Caminhou, deitou em sua grama, olhou o céu, cheirou as flores e as frutas e agradeceu.


Ilha Bonina acordou sentindo uma cosquinha gostosa dentro de si. Viu então o barquinho na areia e num misto de medo, excitação e susto ficou imóvel observando cada passo do barqueiro. Assistiu seu olhar maravilhado, experimentou o toque cuidadoso e velou seu cochilo. Chegou então a hora do barqueiro ir embora. Ilha Bonina mirou o barquinho do navegante até que desaparecesse no horizonte.


Quando Lua Fina pôs-se alta no céu, a amiga de terra – sem revelar o encontro com o visitante – decidiu que era hora de partirem para longe.

“Como pude ser tão distraída?” Ilha Bonina se perguntava em silêncio. Sentindo a amiga mais calada do que o normal, Lua Fina começou sua contação de casos e lembranças. Novamente as duas puseram-se a rir até cair no sono.


Horas depois Ilha Bonina despertou com a sensação mais aconchegante que já havia sentido e para sua surpresa, lá estava o barquinho aportado na praia. Dessa vez a curiosidade foi maior do que o medo:  – Barqueiro, como me encontrou? Perguntou com voz firme.


Ele, feliz como nunca, respondeu: – É da minha natureza estar no mar, assim como você. Também é da minha natureza observar o céu. Esta lua que te segue é para mim como um farol e, se permitirem, estarei sempre por perto.


Nesse instante Lua Fina acordou e viu todo medo da amiga se dissolver. As duas se olharam com a cumplicidade já sabida e Ilha Bonina floresceu como nunca.

Desde então os três seguem assim, compartilhando aventuras e os três maiores sorrisos já vistos em alto mar.

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