Portfólio
Tudo o que queimei
'Tudo que queimei' (2020) surge como o registro da tentativa de organização interna e de processos íntimos de cura. Acender velas tornou-se um ritual de acomodação do tempo e de emoções; uma cerimônia que se repete mais de uma vez por dia.
O fogo é entidade, excede a própria vida. Num instante de vida-vela nos tornamos mais humanos ao aceitar que há coisas que não conhecemos. Ao queimar, a vela passa a circular invisível, presente, sem forma e nos dá a chance de evocar o mistério e erguer o espírito.
As peças dessa série assumiram corpos orgânicos, desorganizados e vulneráveis. Somado às velas e ao fogo vieram papel vegetal, linhas, folhas, raízes, prata e por último o vestido. A coleta também diária de pequenas coisas que ajudam a escrever o que sou no instante e que refletem as várias camadas atravessadas.
A multiplicidade de materiais foi (e tem sido) recurso para manter-se no presente. Não é possível prever o fluxo. Há um desejo constante de transformação em cada material, um devir-matéria no qual me reconheço.
Não houve em nenhum momento a intenção de impor forma. Não houve desenhos, protótipos ou decisões prévias. As experimentações seguiram (e seguem) intuitivas; e eu sigo curiosa - ainda que atravessada por coisas que não sei o nome - em colocar à vista o que é da ordem do íntimo.
A máscara O Espaço Seguro foi parte da exposição online MASK promovido pela Galeria Alice Floriano (POA) em maio de 2020.